sábado, 31 de agosto de 2013

Carrara

por Pedro Preturlon

Uma viagem sempre irá te surpreender. Pelo inusitado, pelo grotesco, pelo  vulgar, pelas maravilhas, pelas vidas ali vividas, pelas perguntas e respostas que todo lugar te presenteia.



Um desses lugares que me deixou mais dividido, sem palavras, ou melhor, com quase todas elas na ponta da língua, foi o caminho para um vilarejo na Toscana, Colonnata, pertencente a cidade de Carrara. As palavras todas circundam o lugar, mas é difícil você escolher alguma para adjetivar essa estradinha cheia de meandros.

Claro que tudo na vida tem, no mínimo dois lados, o bom e o ruim, o apático e o eufórico, o enfadonho e o vivaz, o branco e o preto, enfim, depende de como vemos a vida, depende de nosso “astral” naquele dia, naquela hora.

Agora, tudo isso ao mesmo tempo já é mais difícil, pouco provável, quem sabe? Mas acontece, ou pelo menos comigo foi assim.

Aproximando-se pela Via Aurélia (se não me engano) ao longe já é possível visualizar aquelas montanhas brancas que, nem que seja por um minuto, você se questiona – “neve aqui?” E se for verão então...? Mas a ficha cai e você se dá conta que está na região que forneceu matéria prima para milhares de obras de arte, tanto para a arquitetura quanto para a escultura.

A estrada que leva para Colonnata é uma das coisas mais insólitas que já vi. Tudo tem uma escala adimensional. A estrada muito estreita, as montanhas riscando o céu, os caminhões “fora de estrada” imensos, passando ao seu lado, oprimindo sua dimensão, com os pneus tendo o dobro ou mais da altura do carro e lembre-se, você vê o caminhão porém, o motorista dele te ver, acho pouco provável.

O branco, tudo é branco! Os rejeitos do mármore descarregado nas encostas das montanhas parecem avalanches de neve perene. A monotonia das curvas e do branco do mármore dominam sua visão e sua atenção para não ser arrastado por uma daquelas máquinas “Mad Maxianas”, até a chegada à pequena vila, que continua instigando você a entender a peça que sua visão está lhe pregando. Como viver num vale tão estreito escoltado por todos os lados pelo lindo e insosso brando do mármore de Carrara?

Você se sente em um cenário hollywoodiano. O lugarejo começa do nada e termina no nada. As casinhas pequenas, construídas em pedras e as revestidas com argamassa, quase todas num tom terracota. Saindo da praça central, caminha-se por vielas as vezes um pouco mais largas que um metro e não raramente com um morador postado em uma janela de sua casa, estático, com o olhar distante, vislumbrando o branco. 

Há ainda uma pracinha com uma escultura de um ‘estilo” duvidoso, esculpida em um óbvio “mármore da casa”, homenageando os trabalhadores das pedreiras. A sensação que dá é você ter participado de um daqueles brinquedos radicais de um parque da Disney que no final o recebem na sua instigante lojinha, só que neste brinquedo você é brindado com a volta, também é radical.






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