quinta-feira, 25 de junho de 2015

Princesa Brasileira, Rainha da França?



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Sua Alteza Real Princesa Isabelle Marie Amélie Louise Victoire Thérèse Jeanne d´Orléans e Bragança (Condessa de Paris).

Neta da Princesa Isabel (sim, a que deu a alforria aos escravos) e de Gastão d´Orléans, o Conde d’Eu, que também eram seus padrinhos de batismo. 

Bisneta de D. Pedro II e tataraneta de D. Pedro I. Casada com o Príncipe Henri d´Orléans, Conde de Paris e herdeiro do trono francês. 

Lembra-se de seus livros de história do Brasil e sua mais popular personagem? 

Pois o pedido de beatificação da Princesa Isabel foi enviado em 2011. Ainda que o processo não tenha sido iniciado, por pressões daqueles que duvidam das ações da Princesa, ainda é uma possibilidade...

Achei a história curiosa e, na época em que escrevia o Paris Legal, resolvi bater à porta da Princesa do Brasil, Condessa de Paris, pretendente a Rainha da França, parente de D. Pedro e ao mesmo tempo de São Luís, o rei Louis IX que virou santo! Sim, minha cabeça deu um nó e fui correndo matar a minha vontade de tocar a mão na neta da Princesa Isabel. Algo como por a mão na história. Maluca, eu?

Claro que obedeci ao protocolo! Agendei minha audiência com ela, através da Embaixada do Brasil (já que ela é uma cidadã brasileira) e com uma carta de indicação do governo francês atestando que eu estava escrevendo um livro. Na época em que escrevi o guia de Paris, não havia outro escrito por um brasileiro e, por isto, a iniciativa era muito celebrada.


Tomamos chá (em louças inimagináveis em meu currículo de vida) em seu elegante apartamento de Paris, no "huitième", recheado de fotos, cristais, tapetes, quadros e objetos de arte transbordando por todos os lados.  

Filha de uma princesa brasileira e um conde francês, Isabelle, naturalmente, herdou os títulos dos pais, além dos títulos de seu marido.



Educadíssima, meiga e gentil, conversou comigo em português contando de seus onze filhos, 39 netos e 26 bisnetos que também falavam português, segundo a Condessa. Parece que hoje já são 106 bisnetos.

Disse-me que gostaria de sugerir aos brasileiros, em meu guia, visita, indispensável, ao Museu do Louvre, o que ela considerava a visita mais importante na cidade .

Foi possível perceber sua altivez e elegância com aquela educação que só se vê em livros de etiqueta. Porém, ao mesmo tempo, foi possível sentir uma boa dose de brasilidade.


E esta rainha tinha este "elan"! Ahhh tinha! Encantadora!!


Presenteou-me com dois livros que tratam de sua biografia, best sellers da Europa, autografando com carinho. Pena que a gente não costumava fazer selfies há dezoito anos ... Bem, acho que eu teria vergonha de tirar uma com a Condessa, Princesa, quase Rainha, prima da outra rainha, neta de beata, prima de santo... Sei lá... 

Autógrafo da Condessa de Paris em sua biografia: "Tout m´est bonheur"


"Madame", como devia ser chamada, nasceu e viveu no Chateau D´Eu** com seus pais, irmãos, tios e avós paternos que viviam o exílio na França desde a extinção da monarquia no Brasil. A Princesa Isabel, a quem ela se referia como vovó, costumava conversar e recitar versos em português. 

Costumava enviar "quentinhas" à Santos Dumont, para que ele se alimentasse corretamente, além de recebê-lo em casa, constantemente.




A Condessa de Paris esteve várias vezes no Brasil, sendo a primeira, com 11 anos de idade, logo após a morte da Princesa Isabel, em 1921. Seu avô, o Conde d´EU, que a chamava de Bebélla, já que, segundo ele, havia muitas Isabelles na família, veio junto com eles para o Brasil, porém morreu a bordo do navio, antes da chegada ao porto do Rio de Janeiro. 

Veio morar no Brasil aos 15 anos, no Palácio do Grão Pará, em Petrópolis. Casou-se em 1931, com o Conde de Paris, seu primo, também um Orléans, que também vivia exilado. Casaram-se em Palermo e foram viver na Bélgica onde tiveram cinco dos seus onze filhos.
 

Com seu marido o Conde de Paris

Madame vestindo Dior! credit: ©2014 Artists Rights Society (ARS), New York/ADAGP, Paris - See more at: http://www.vogue.it/people-are-talking-about/vogue-arts/2014/10/monsieur-dior-once-upon-a-time#ad-image

Em 1939, volta ao Brasil para viver com seus pais que, desde que a lei do exílio havia sido revogada, voltaram para casa em Petrópolis. Deu à luz a uma de suas filhas no Rio de Janeiro e seu marido, o Conde, veio três meses depois. Depois de quase dois anos, em terras tupiniquins, muda-se para o Marrocos.

De exílio em exílio (saga de toda a sua família desde Dom Pedro até seu próprio marido), ainda viveram na Espanha e em Portugal até que, em 1950, puderam, finalmente, voltar à França (quando a lei do exílio foi revogada) e enfim, viver o um verdadeiro conto de fadas com bailes de gala e viagens glamourosas até 1960, quando perderam um de seus filhos em combate na Argélia e recolheram-se da sociedade por um bom período. Em 1983 perderam outro filho.


O casamento dos condes durou até a década de 80, quando ela passa a viver no apartamento em que a visitei. Costumava visitar seus irmãos no Brasil frequentemente.


Dizem que quando seu marido herdou a fortuna da Casa d´Orleans, em 1940, estava estimada em mais de 200 milhões de euros. Porém, quando ele morreu, em 1999, não restava mais de 20 milhões. O sumiço da fortuna da Casa Real permanece um mistério.
 


A Condessa de Paris, princesa brasileira, herdeira do trono francês, faleceu em 2003, aos 92 anos, quando estava de viagem marcada para o Brasil. Ela pretendia fazer uma exposição de fotos e objetos das famílias Orléans e Bragança no Chateau D´Eu, transformado em Museu do rei Luis Felipe onde ela era presidente de honra. 

Hoje, seu primogênito é o atual Conde de Paris, porém ela deixou parte da herança (uma floresta e outras coisas mais) para o seu neto preferido, Jean (filho do atual conde e o próximo herdeiro ao trono que nunca chega). 


Há alguns anos, em 2008, seus herdeiros fizeram um leilão promovido pela Christie´s onde leiloaram até mesmo fotos da Condessa com seus filhos, móveis, quadros, retratos, louça (talvez aquela que eu tenha tomado chá?), fios de cabelo de Luis XVI e de Maria Antonieta e ainda um retrato da condessa, pintado por Cândido Portinari avaliado entre 20 a 40 mil euros... 



Condessa de Paris de Cândido Portinari


Ainda hoje, há uma disputa no Brasil entre os descendentes da Princesa Isabel. Tudo começou quando o pai da Condessa de Paris, Príncipe do Grão-Pará, Pedro de Alcântara, abdicou do trono do Brasil na linha de sucessão, onde o seu irmão passar a ser o sucessor. A sucessão teria voltado a ele já que seus dois irmãos faleceram. Neste caso, fica a discussão entre os descendentes do pai dela (seus irmãos) e os descendentes do tio dela (seus primos).

Muita discussão para nada, já que a monarquia no Brasil foi extinta, desde 1889. Enquanto sua família daqui discute a sucessão ao trono brasileiro, a família que ela criou com o marido também discute sobre os direitos de sucessão ao trono francês. Et la nave va... 


A Condessa Isabelle D`Orléans era muito querida e respeitada na França, até mesmo por contrários a volta da monarquia. Em 2011, o museu do Chateau d´Eu rendeu homenagem à princesa do Brasil por ocasião de seu centenário. A revista francesa Point de Vue, que basicamente publica assuntos relacionados à realeza européia, teve muito contato com a Condessa. Contam que, em todos os grandes eventos, quando ela chegava, todos ficavam
em silêncio e passavam a reverenciá-la. Querida de todo o meio político, amiga de François Mitterand e Jacques Chirac, além de grandes outros ilustres como a Baronesa de Rothschild e até mesmo o brasileiro Assis Chateaubriand. 




Paris Match


E assim foi o conto de fadas da "quase" rainha da França ao estilo meio verde e amarelo.   

Chateau d'Eu

O famoso Castelo d´Eu 

 **O Chateau d´Eu foi adquirido pelo Conde d´Eu, em 1905, apesar de estarem vivendo o exílio por lá, desde 1889, com o consentimento da família Orléans. Em 1940, o chateau é vendido ao jornalista e magnata brasileiro Assis Chateaubriand que pretendia fazer um museu de Dom Pedro. O governo francês compra o chateau em 1964 e, em 1973, reabre como Museu do rei Louis-Philippe. 

A Condessa de Paris manteve algumas terras do parque do chateau como propriedade da família e visitava os domínios, frequentemente, hospedando-se em seu pavilhão particular, o Montpenssier, que hoje pertence a um de seus netos. Ela fundou a Associação Amigos do Museu que expõe peças que pertenceram à família imperial brasileira. Neste chateau, em 1430, Joana D´Arc passou uma noite quando foi aprisionada. 

Em sua próxima viagem a Paris, deixe Versailles e Fontainebleau um pouco de lado e faça uma homenagem à nossa história visitando o Chateau d´Eu. Que tal?


 http://www.chateau-eu.fr/

Notas:

As Jóias

* As jóias com 28 safiras do ceilão e diamantes, que ela esta usando na primeira foto deste post, estão hoje expostas no Museu do Louvre. Trata-se das jóias da rainha Maria Amélia, que antes pertenceram a imperatriz Josephine (esposa de Napoleão), e, dizem, a Maria Antonieta.  

O Sepultamento

Ela foi sepultada na Chapelle Royal Saint Louis (na cidade de Dreux), onde estão sepultados todos os Orléans e onde esteve também o Conde d´Eu e a Princesa Isabel até o governo brasileiro ter reclamado os restos mortais do casal, em 1953, quando foram transladados para Petrópolis.

A Exumação

A continuação do exílio pós vida: 

Dom Pedro I morreu em Portugal (veja aqui onde ele nasceu e morreu), mas teve que viajar de volta ao Brasil. Pedro II morreu na França, mas foi para Portugal e depois para o Brasil. Gastão d´Orléans, famoso Conde d´Eu, morreu a bordo do navio que chegava ao Brasil. Seu corpo foi levado de volta à França para ser enterrado junto à Princesa Isabel, em 1939. Em 1953, parte outra vez para o Brasil para ser sepultado no Mausoléu da família imperial brasileira.

Ufa!! Só que não!

Em 2014, uma arqueóloga brasileira entrou com um pedido de exumação para sua tese de doutorado. Ela estudou os restos de Dom Pedro I e suas duas esposas e agora pede autorização, novamente, para estudar Dom Pedro II, sua mulher, sua filha (Princesa Isabel) e seu genro (Conde d´Eu).

E aquela frase "Descanse em paz?" Não é o caso desta família nem em vida e nem em morte!

Dona Maria Amélia, Imperatriz do Brasil - Ciênciahoje.uol.com.br

Fontes:

As informações da vida de Isabelle d´Orléans, que transcrevo aqui, obtive através de sua biografia, escrita por ela mesma, além de nosso encontro. Dei outras pinceladas na Wikipédia também e no blog do filho dela, arquivos da revista Point de Vue e o blog noblesseetroyautes.com. Por conta das discussões das famílias e ainda por razões políticas, uma vez que não existe monarquia nem no Brasil e nem na França,uns dizem que seus títulos são reais, outros dizem que são títulos meramente dados por cortesia, sem nenhum valor legal!


Leia Mais


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2 comentários:

  1. EXcelente matéria, Cynthia, adorei !!!
    Você tem histórias incríveis para contar.Permita-nos conhecê-las,"s`il vous plait"!

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  2. Cynthia, parabéns por nos compartilhar suas experiências. Eu sou fã de História e venho acompanhando o trabalho de Valdirene do Carmo Ambiel, e, deparei-me com sua história, vivência experimentada com uma "quase" rainha, a Condessa Isabelle com sua altivez como você mesmo cita, e, simplesmente fiquei vislumbrada por essa parte histórica da família real brasileira. Parabéns novamente.

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