Crônicas

Quando eu resolvo parar para pensar...

Você pode encontrar além destas abaixo, outros textos no:
Crônicas Cynthia Camargo
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  • SAUDADE DO COMANDANTE ROLIM

"Para você Cynthia, rainha do coração da Tam. Rolim"
Texto publicado na revista Hotelnews


Como não havia café da manhã, nem almoço ou jantar nos voos que realizei com a minha filha recentemente, fui contando a ela como era bacana viajar de avião tempos atrás. 

Ela não quis o pacote com duas bolachas (oferecido com desafeição), porque a fez lembrar a hora do chá do hospital, quando o seu pai operou. Contei a ela que, após a decolagem, a gente começava a sentir aquele cheirinho bom de comida saindo do forno que nos trazia aconchego, depois de pararmos nossas vidas e as entregarmos à tripulação.

Como não havia sabonete nos toaletes, fui massageando as mãozinhas dela com álcool gel (que carrego na bolsa), contando que a gente costumava ganhar lencinho com cheirinho bom!

Como estranhamos o encosto estar duro como uma tábua de passar roupa e a justificativa da comissária de que as novas aeronaves eram assim mesmo, contei a ela que mesmo em viagens curtas, como a ponte-aérea São Paulo-Rio de Janeiro, tínhamos direito a um travesseirinho.

Quando o comissário ameaçou meu marido, de que ele teria que trocar de lugar se não soltasse sua máquina fotográfica (porque não havia espaços nos compartimentos acima de nossos assentos e ele já havia sido roubado em outro voo), expliquei à minha filha que quando embarcávamos em um avião, as comissárias (antigas aeromoças) eram simpáticas e pareciam ter saído de um desenho da Disney. E, apesar das mesinhas não costumarem estar sujas, sempre sorriam ao nos atender ao invés de torcer o nariz como fazem hoje.

Como o entretenimento de vídeo e áudio a bordo não estava funcionando, fui me prolongando, contando a ela que havia um homem visionário, que enxergava seus consumidores como seres humanos (o que lhe conferia um doutorado em marketing) e que ele recebia seus passageiros, todos os dias, bem cedinho, com pão de queijo quentinho, sucos e um tapete vermelho. Então, fechei os olhos e revivi um momento mágico ao lado do comandante Rolim Amaro, fundador da Tam.

Era o nosso primeiro grupo gastronômico na França e tive que administrar um caos, por conta de um overbooking, previamente anunciado. A Tam avisou o nosso operador em Paris de que teria lugares para, somente, metade do grupo embarcar de volta ao Brasil, no dia seguinte. Não foi fácil, o grupo estava em total estado de encantamento com a semana mágica que haviam passado, degustando sabores extraordinários em castelos e restaurantes estrelados e trocaram esta sensação pelo   estresse com os compromissos que tinham no Brasil, filhos, reuniões, prazos e a condição imposta que lhe tolhia o direito de ir e vir. Embarquei parte do grupo, ficando com a outra parte, mais uma noite em Paris. Tanto os que embarcaram, quanto os que ficaram, não queriam conversa comigo.

Assim, na volta ao Brasil, decidi contar ao comandante Rolim (sim, ele era acessível), sobre o estado de espírito alterado do grupo, após um ano de planejamento e muito trabalho, a fim de proporcionar momentos inesquecíveis a essas pessoas, o que havia sobrado na lembrança era o descontentamento. Imediatamente, o comandante marcou um almoço na sede da companhia com o grupo todo - enviando, inclusive, bilhetes aéreos aos que moravam fora de São Paulo. Serviu o cardápio que era oferecido na primeira classe dos voos, com direito a muito caviar e champagne e abraçou cada um dos vinte integrantes do grupo.

Ao final do almoço, levantou-se e pediu desculpas pelo overbooking. Simples, clara e humildemente assim Deixou todos os convidados boquiabertos e sem ação! Entregou um livro autografado a cada um dos passageiros, que haviam chegado desconfiados e prontos a tecer sérias críticas sobre o que vivenciaram e de repente, tornaram-se os melhores amigos do comandante.

Acredito que até hoje, essa seja uma doce recordação na lembrança de todos e principalmente na minha, pela oportunidade que nos deu em poder resgatar os melhores momentos de nossa viagem.
Abri os olhos e ainda com a boa imagem do comandante, notei que ao menos continuavam a oferecer a bala (só a balinha mesmo, sem o sorriso), mas minha filha não quis. Disse que grudava nos dentes!




  • DORES E PRAZERES EM ESCREVER UM LIVRO

Fica aqui registrado minha pequena homenagem a um homem que não só acreditou em mim, como também me ensinou uma das mais importantes lições que tive na vida.
Ibsen morreu há alguns anos! Mas deixou uma grande lembrança comigo!


Meu texto original estava sendo editado e eu estava desesperada com as mudanças, com cortes, censuras de todos os gêneros e substituição de palavras, o que para mim era como se estivesse sendo alterado toda a alma do meu livro. Eram discussões diárias com a profissional que estava cuidando da edição e várias e várias reuniões com o editor chefe para acalmar os ânimos.

A profissional nunca havia ido a Paris, era totalmente contra a monarquia e por isto se sentiu no direito de cortar todo um capítulo onde eu descrevia as construções e épocas de cada rei. Cortou todos os capítulos onde eu contava sobre a parte feia da cidade (todas tem), porque um guia de turismo deve, segundo ela, conter apenas a parte bonita.

Mudava frases que achava coloquiais demais (claro, não sou nenhuma grande escritora e a intenção era falar do jeito que sei) como "puxar conversa", ela trocou por "entabular conversação" e "cocô de cachorro" ela mudou para "fezes de animais". Com muita negociação chegamos a um meio-termo para "necessidades das mascotes"...Enfim, não foi nada fácil para mim ver meu gênero e estilo sendo navalhado por uma estranha!

Nesta situação de extremo mal-estar, Ibsen me fala o seguinte: "Cynthia, em toda conquista há dores e prazeres. Não há como fugir disto!!"

Uso esta frase para cada momento de minha vida nestes últimos quinze anos!! Agradeço pois, duas vezes meu caro editor! Pelo nascimento de meu livro e pelo grande ensinamento! Que os deuses (todos eles) te abençoem onde você estiver!!
   



"Cynthia Legal, Paris é jóia e viajar para lá ficou ainda mais bacana com o seu belo e atraente livro. Longa via ao livro. Fiquei feliz em participar de seu projeto: Contratei uma autora e ganhei uma amiga, brava e guerreira, sensível e perceptiva. Que os astros te protejam e que os deuses (todos eles) te abençoem. beijos Ibsen"

REFLEXÕES DE UM GUEST RELATIONS!




 Texto publicado na revista Hotel News

Acompanhar pessoas durante uma viagem é o mesmo que se tornar uma espécie de Google humano.

Informações sobre os toaletes, lojas, farmácia, medicamentos, tradução do cardápio, encontrar endereços, pedir mais travesseiros, como ligar ao Brasil, para tirar fotos, para tomar injeção, ir a um dentista, fazer um BO, ficar na fila para comprar uma bolsa Louis Vuitton..-“.Você fica na fila pra mim?”
 “-Eu quero salada no lugar das fritas e um ovo no lugar dos legumes sauté, dá pra pedir?”

“-Posso ficar mais um pouco?” “ -Vai comigo?” “ -Fica comigo?” “- Segura a porta do banheiro pra mim?”

Ser a guest relations tem que ter o “dom” e sobretudo, prazer em servir...Senão, nada feito!

Você se torna a referência, o porto seguro, mesmo que a pessoa seja descolada! A dependência criada durante os primeiros minutos já no embarque é instantânea. Você torna-se o “Alfredo” a tiracolo, propriedade pública, patrimônio do grupo que briga pela sua atenção, literalmente!

Porém, o grande significado, valor e graça em ser um guia é outro!

O valor que tem para mim é fazer parte de um grande momento de prazer na vida de uma pessoa. Os olhares brilhando e os queixos caindo quando o ônibus passa pela primeira vez em torno do Arco do Triunfo em Paris é algo emocionante!!. Eu me sinto um pouquinho responsável por aqueles olhares e sensações tão especiais!!

Também acho que o guia se transforma numa espécie de air bag, seguro viagem, guarda costas com mil olhos sempre fazendo a contagem de cabeças, olhando para frente e para trás segurando pela mão, puxando, segurando, correndo atrás, arrancando de uma loja, ligando, procurando...Já me senti o Kevin Costner em “O Guarda Costas”, já me senti a Uma Thurman em “Kill Bill”, já me senti até uma James Bond e Sherlock Holmes. Desempenho vários papéis em um, com direito a uma cenografia e fotografia mágicas como se fosse um filme ao vivo!! Um Reality Show, assistido por mim mesma!

Claro que este trabalho também nos oferece uma série de momentos únicos e memoráveis onde todo o seu cuidado e atenção com o grupo, para que se sintam felizes e seguros, seja compensado em grande estilo.

Uma vez, levando um grupo gastronômico a um restaurante na região da Alsacia (3 estrelas no guia Michelin), eu e o guia local acomodamos o grupo, traduzimos as boas vindas do chef, o cardápio que seria oferecido, penduramos os casacos, tiramos fotos e desejamos “Bon Apétit”! Quando estávamos saindo do restaurante, a fim de encontrarmos algum lugar para comer um sanduíche, o chef e proprietário estrelado nos abordou perguntando se nos incomodaríamos em comer na cozinha!!

E desta forma, humildemente, o grande chef 3 estrelas, puxou a cadeira para mim, a mãe dele trouxe um vaso cheio de flores frescas para enfeitar nossa mesa e o sommelier premiado veio nos sugerir o vinho.

Almoçamos como reis sendo servidos pelo próprio Chef!

E então, na hora do cafezinho ele nos vem com o máxima:

“- Vocês estão sentados no lugar preferido do Rei da Suécia! Quando ele vem, faz questão de sentar-se na cozinha!!”

Os passageiros morrem de rir quando o guia local é francês e fala português...”Gente, estão vendo aquela montanha “peituda” (querendo dizer pontuda)?....A Torre Saint-Jacques hoje é usada para fazer testes de gravidez (querendo dizer gravidade)...e ao invés de pulga atrás da orelha, ela tinha o pé atrás da orelha...

Também já passei por grandes apertos, como dizer às pessoas que elas não vão mais embarcar para Paris, seja por um overbooking aéreo ou um vulcão em nosso caminho. Ser portador de má notícia é difícil. Já enfrentei grandes frustrações de passageiros mas, a pior de todas foi ter que retirar mais de mil torcedores do Stade de France em meio a uma multidão de franceses gritando 3 x 0 na fina da Copa do Mundo de 1998! Me senti impotente e o que me restou foi chorar junto!

Mas seja da forma que for, eu me sinto uma pessoa privilegiada em ter a honra de acompanhar pessoas para o destino mais encantador do mundo!

Me traz um imenso prazer há 18 anos! E é claro que entre contar as cabeças no metrô, dar a mão para atravessar a rua, puxar pelo braço para não ser atropelado e escolher o presente dos filhos, é claro que sobra tempo para a minha própria contemplação e momentos de grande significado e aprendizado na minha vida pessoal.

Carrego na minha bagagem de vida, sorrisos e brilhos nos olhos de centenas de pessoas que realizaram, na minha presença, sob a minha vigilância, um de seus grandes sonhos!

Sou uma espécie de “Guardiã” de alguns jardins secretos por aí!! Très Important!!



Muitos já me disseram que quando veem Paris na TV ou em um filme de cinema ou leem algo sobre a cidade, pensam em mim!! Não poderia desejar forma melhor de ser lembrada!! Très Chic!!

NOS TEMPOS SEM INTERNET





Era o ano de 1988. Não havia internet naquela época! Também não existia Sedex.

Eu trabalhava na agência de publicidade W/Brasil e não me lembro ao certo o motivo, mas a questão é que havíamos perdido o prazo da rede Globo para entregar as peças publicitárias e o espaço já havia sido comprado.


Todas as peças de veiculação nacional tinham que ser enviadas e entregues em mãos a cada filial da emissora por todo o país e por isso havia este prazo.

Bem, talvez se fosse hoje, o caos estaria instalado. Talvez a reação de um profissional sem internet, sem sedex e com prazo estourado fosse similar a uma ameaça de guerra ou Tsunami. Eu seria uma destas que entraria em pânico. 

Mas naquela época, o que houve em um final da tarde, geralmente regado a picolé de uva, foi um bafafá (termo usado naqueles tempos, indicando um murmurinho).
E se a solução dos problemas hoje, são mais eficazes, eficientes e num piscar de olhos, naquela época, no entanto, era, muitas vezes,  poético.

A saída para a crise, foi a de enviar fiéis mensageiros como pombos correios humanos em asas metálicas a cada capital para entregar, o que na época, era uma espécie de tijolo, o filme publicitário.

 Fui sorteada para entregar a peça em Recife. E lá me fui. A missão era a de entregar o filme nas mãos de um responsável da emissora, que estaria esperando no aeroporto. Sempre prevenida, fui com um biquíni básico por baixo da roupa. Nunca se sabe.

Ao chegar, o responsável me ofereceu uma carona com o motorista para onde eu quisesse ir...Claro, parei em Boa Viagem e fui dar um mergulho e almoçar. Naquela época, os tubarões daquela praia não mordiam ninguém.

Então, peguei um táxi a fim de voltar ao aeroporto. Conversando com o motorista, contei do motivo de estar ali. Ele perguntou se eu já tinha ido a Olinda. Eu disse que não. Assim, o sujeito deu meia volta, fez o caminho contrário ao aeroporto em direção à cidade de Olinda.

Um verdadeiro guia, me contou um pouco de tudo. Batia uma brisa agradável e pude caminhar no novo destino, totalmente improvisado. Anos depois, voltei a Olinda e fiquei hospedada por lá, com reservas, motorista, hora marcada. Não foi nem de perto, tão emocionante quanto ao dia do improviso.

Olinda foi a primeira cidade brasileira a ser declarada patrimônio cultural pela UNESCO.

Na volta do passeio, em excelente companhia do guia/taxista, ele parou no mercado - que ainda não tinha pegado fogo - e me trouxe um acarajé gigante e água de coco, para que meu trajeto até o aeroporto fosse regado com as melhores sensações! Não cobrou nada além do trajeto até o aeroporto, Com prazer dei uma bela gorjeta. Isto sim é um profissional de marketing dos bons!!

Não me lembro bem porque, mas o voo fez uma escala em Brasília. No embalo do improviso, enquanto um povo descia e o outro subia, ousei bater na cabine do piloto. Perguntei se eu poderia ver de frente um avião decolar. Super simpático ele autorizou de imediato. Hoje, acredito, não é mais permitido, mesmo porque ninguém ia querer, já que é possível ligar o celular e enviar e-mails, checar o Instagram, Facebook, Twitter e Linkedin durante o voo....

Assim, apertei meu cinto em uma banquetinha bem atrás do piloto e fiquei bestificada com o número de botões que ele tem que checar com o copiloto antes de partir. Foi lindo!! Claro!
Ele pediu então que eu retornasse ao meu assento e que eu poderia voltar, mais tarde, para assistir o pouso.

á praticamente da família, me sentindo como parte integrante da tripulação, voltei. Acho que cedo demais, porque a cena que vi nunca mais saiu da minha memória. O piloto estava comendo uma fatia de melancia com as duas mãos! Ninguém segurava o manche!!!! Ao ver os meus olhos de terror, me tranquilizou contando das modernidades de um piloto automático.

Enfim, já havia escurecido e pude assistir São Paulo (uma verdadeira caixinha de joias), com as luzes brilhando. Pousei em Congonhas, olhando de frente!

Ainda bem que não havia Internet nem Sedex naquela época!


  • O LUXO 


Foi em uma palestra de Rosângela Lyra que me senti aliviada, quando  ela pediu que a plateia a ajudasse a encontrar outra palavra a ser substituída por luxo, já que a mesma estava mais do que desgastada. Enfim, alguém havia dado voz ao que eu sentia.


Várias interpretações nascem todos os dias, somando a todas as outras já proferidas. Cursos, palestras, viagens, show rooms, imersão total, livros, filósofos e até MBA do luxo estão por ai.

Até aí, bacana podermos desfrutar de uma super viagem, experimentar hotéis paradisíacos, carros que andam sozinhos, jatinhos de ouro, diamantes cor de rosa, restaurantes onde se prova espuma com sabor de pêssego e gastar 50.000 reais no camarote da balada ...Afinal, o dinheiro está aí para usufruirmos o que de melhor ele pode pagar. Mas isto está longe de ser luxo.

O que ocorre é que, além dos milhares de interpretações e investimentos em estudos e pesquisas sobre o tema luxo, ainda há centenas de milhares de outras informações sobre a corrupção, crianças assassinadas, vítimas de bullying a bulimia, catástrofe nas Filipinas, gado morrendo de sede no nordeste e crianças morrendo de fome na Índia.

Por outro lado, vê-se em revistas e em Tv´s que grande parte de homens e mulheres de “todas” as idades possuem  expressões estranhamente parecidas como se fossem todos da mesma família por causa dos procedimentos estéticos.

Somos bombardeados com centenas de cenas chocantes sobre o desrespeito com os elefantes para vender marfim, com os tubarões para tomar sopas de barbatana, sobre as touradas para entreter, sobre os testes em animais para ver se a água sanitária queima mesmo, ou abrindo um animal para saber como é por dentro. Tudo isto é classificado como luxo e avanços modernos.

De outro lado, recebemos promoções mentirosas, propagandas enganosas como o caso do azeite extra virgem que não é nem virgem que dirá “extra”, que a Coca-Cola é o mais tóxico dos alimentos e que a batata frita do Mc Donald´s não se deteriora depois de 6 meses, se mantendo intacta, quase como os corpos dos santos que são incorruptíveis. Acredito que nem dentro da minha barriga ela se modifique!
Vemos em nossas timelines, além de tudo isto, frases feitas e a principal delas é aquela que diz, de várias formas,  que só se deve gostar de quem gosta de nós, dar atenção para quem nos valoriza e dar amor somente àqueles que nos amam, como se isto fosse um  momento de iluminação divina.

Um absoluto atestado de egoísmo e egocentrismo. O sentimento por algo ou alguém é espontâneo que preenche o ser humano. Não é possível se alimentar do sentimento alheio, portanto é uma equação impossível, mesmo pensando em termos logísticos. Além do que, creio que a verdadeira grandeza de espírito está em dar atenção e amor a quem precisa e não a quem nos retribui. Sem esperar nada em troca.

Infindáveis reuniões de marketing, a fim de checar novas e modernas estratégias para conquistar o cliente...São estratégias matemáticas ultra complexas que exigem o máximo de resultado, com o mínimo de investimento. Uma vez alcançada a fórmula, tudo deve caminhar para a perfeição, se possível antes de ontem. E por fim, no final das contas,  compramos a batata de cera, a Coca-Cola tóxica e o azeite de quinta categoria.

Aceitamos que os fins justificam os meios e concordamos em fechar os olhos para os olhos queimados do coelhinho e que o uso dos beagles é para nos livrarmos do câncer.
Compramos a pulseira de marfim, porque é chique e porque o animal já está morto mesmo, “respeitamos” as touradas porque é cultural e estamos longe demais para não ter além do que pena dos golfinhos e dos filipinos.

Pensamos durante 24 horas por dia em como ganhar mais dinheiro a fim de poder consumir a sopa de barbatana do tubarão, comprar marfim e fazer preenchimento labial?
E então descobri o verdadeiro luxo.

Por quê? Porque dizem que o luxo é qualidade, raridade, dificuldade na aquisição, exclusividade, prazer, deleite, desfrute, tempo.

Penso, pois, que toda e qualquer discussão sobre luxo tem que estar estabelecida antes de tudo no amor. Com ele vem o respeito, o bom serviço ao consumidor, a honestidade do produto, a satisfação do cliente, a saúde, a alegria, bem estar, o perdão, a aceitação do próximo com suas virtudes e fraquezas e com a capacidade de nos aceitarmos, além de sermos capazes de sempre ajudar o nosso próximo e respeitarmos todas as formas de vida... Se isto vier acompanhado de um belo champagne em Paris, tant mieux...

Do contrário, para mim, todas estas teses são completamente vazias, gastas e desnecessárias, já que o futuro do homem é a evolução e a crescente consciência. Os profissionais que enxergarem isto estarão à frente.

É possível sentir um movimento que segue para o declínio da ostentação, da overdose da matéria, para a busca de uma vida com mais moral, ética e simples. O profissional de marketing de luxo do futuro é aquele capaz de vislumbrar que o que, de fato, o consumidor buscará será  o básico.
Quanto mais pessoas e mais empresas olharem para o futuro, mais entenderão que o mundo está no caminho de volta.

Este movimento de tomada de consciência do indivíduo, que o leva a refletir sobre suas escolhas e estilos de vida, estão baseadas na busca de uma experiência duradoura que somente a matéria não pode proporcionar.

Uma linda bolsa, da melhor qualidade e marca só tem sentido, se o conjunto todo tiver um conceito maior. O produto, na verdade, é uma parte e um complemento de adorno de uma base de qualidade e beleza, que deve ser o próprio indivíduo que carrega aquela bolsa. O indivíduo tem que ser lindo também, por dentro e por fora!!

A experiência do luxo começa com o próprio ser humano. Este movimento de reflexão, de uma consciência maior e na nova busca por uma existência com mais sentido, todo seu entorno terá que estar baseado nesta nova filosofia de vida e em todas as suas escolhas.
Uma empresa que vende produtos deverá compreender, que o seu item mais importante não é o produto e que o seu trabalho não termina na venda.

O ser humano  irá buscar tudo o que possa lhe proporcionar um sentido mais amplo de sua existência. É claro que ninguém deixará de comprar uma bolsa ou cosmético, porém, este produto deve ter  um embasamento de acordo com as novas escolhas do consumidor.

A procedência, a sustentabilidade e transparência da marca, são muito mais importantes do que o seu display na gôndola. A marca tem que acompanhar o propósito de vida daquele consumidor.
Grandes empresas devem ter uma harmonia interna em primeiro lugar. Uma fusão de todos os departamentos envolvidos onde os profissionais não sejam mais especializados em apenas um setor, mas que tenham a compreensão do todo.

Departamentos que não se comunicam, não passando de memorandos clichês, não funcionam neste novo ambiente. Hierarquias ultrapassadas de diretores que não conversam com estagiários e diretores de marketing inacessíveis ao mercado, não serão mais eficientes. O status quo dos profissionais terá que ser a humildade. O consumidor não busca mais o produto em si. O status terá que ter fundamento. Não será mais suficiente ter uma tradição histórica e qualidade da matéria prima. Há de ter um conceito que se encaixe a filosofia do individuo.

Vivemos numa sociedade que visa o lucro e esta questão também terá que ser reposicionada, pois o lucro somente terá verdadeiro valor e chances de se tornar uma constante em uma empresa, caso ela esteja disposta a seguir todos os passos não somente da beleza, do display, da publicidade, mas, sobretudo, estar baseado na ética e na moral.

Este novo consumidor/individuo busca a procedência do produto em primeiro lugar. Não sua tradição, mas sua conduta com o meio ambiente, com seus funcionários. O produto está de acordo com a ética e a moral? Está dentro do que o individuo considera como sustentável? Está livre de crueldade animal? Está livre da escravização do ser humano? É leal ao consumidor? Respeita o meio ambiente?
Passado no primeiro teste, vem a experiência sensorial da aquisição. Entra a prestação do serviço de venda e atendimento onde os profissionais da linha de frente que mantém o contato direto com o comprador possuem não apenas um treinamento embasado em técnicas de venda, mas uma forte formação em seu próprio propósito de vida. A conquista em descobrir o prazer em servir, o mérito em atender com afetividade. Ainda é muito, muitíssimo raro encontrar um profissional com este potencial. Até os dias de hoje, os vendedores ainda possuem um ar de arrogância.

A verdade é que não há mais como um consumidor somente enxergar um produto bonito e que lhe confira status, depois do advento da internet, Google, Facebook. O novo consumidor tem acesso a tudo, a qualquer momento.  Naturalmente mais sábios e, portanto, mais exigentes, buscam a satisfação limpa e duradoura.

A internet nos obriga a tomada de consciência. Não há como fechar os olhos e dizer que não sabia. De fato, não sabíamos. E neste momento, estamos sendo surrados com tanta informação. Ainda tontos com tanta verdade ignorada e falsificada em que vivíamos. O consumidor saiu da apatia e da inércia e começa a engatinhar rumo a um estilo de vida mais ético. Uns vão demorar mais do que os outros, principalmente a nova classe média, que ainda está começando a usufruir da matéria, mas o caminho é um só! Por consciência ou por status ou necessidade de aceitação, todos terão que seguir este novo caminho. Mais cedo ou mais tarde!

E não existe maior estratégia no mercado de luxo ou em qualquer outro do que o Amor.
Usufruir de belíssimas experiências e continuar a desfrutar do que há de melhor no mundo tenderá a crescer cada vez mais, claro, porém, sob uma nova perspectiva.

Achou deveras piegas? Acha que é Utopia? Outro dia em um grupo de discussão, um rapaz me disse que eu vivo no mundo de “OZ”!!

Comentei isto com o meu pai ontem, sobre este meu raciocínio e ele me enviou a foto abaixo por e-mail do Congresso sobre varejo deste ano em NY!





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