Foi em uma palestra de Rosângela Lyra que me senti aliviada,
quando ela pediu que a plateia a
ajudasse a encontrar outra palavra a ser substituída por luxo, já que a mesma
estava mais do que desgastada. Enfim, alguém havia dado voz ao que eu sentia.
Várias interpretações nascem todos os dias, somando a todas
as outras já proferidas. Cursos, palestras, viagens, show rooms, imersão total,
livros, filósofos e até MBA do luxo estão por ai.
Bacana podermos desfrutar de uma super viagem,
experimentar hotéis paradisíacos, carros que andam sozinhos, jatinhos de ouro, restaurantes onde se prova espuma com sabor de pêssego. Afinal, o dinheiro está aí para
usufruirmos o que de melhor ele pode pagar.
Mas isto está longe de ser luxo.
O que ocorre é que, além dos milhares de interpretações e
investimentos em estudos e pesquisas sobre o tema luxo, ainda há centenas de
milhares de outras informações sobre a corrupção, crianças assassinadas,
vítimas de bullying a bulimia, catástrofe nas Filipinas, gado morrendo de sede
no nordeste e crianças morrendo de fome na Índia.
Por outro lado, vê-se em revistas e em Tv´s que grande parte
de homens e mulheres de “todas” as idades possuem expressões estranhamente parecidas como se
fossem todos da mesma família por causa dos procedimentos estéticos.
Somos bombardeados com centenas de cenas chocantes sobre o
desrespeito com os elefantes para vender marfim, com os tubarões para tomar
sopas de barbatana, sobre as touradas para entreter, sobre os testes em animais
para ver se a água sanitária queima mesmo, ou abrindo um animal para saber como
é por dentro. Tudo isto é classificado como luxo e avanços modernos.
De outro lado, recebemos promoções mentirosas, propagandas
enganosas como o caso do azeite extra virgem que não é nem virgem que dirá
“extra”, que a Coca-Cola é o mais tóxico dos alimentos e que a batata frita do
Mc Donald´s não se deteriora depois de 6 meses, se mantendo intacta, quase como
os corpos dos santos que são incorruptíveis. Acredito que nem dentro da minha
barriga ela se modifique!
Vemos em nossas timelines, além de tudo isto, frases feitas e
a principal delas é aquela que diz, de várias formas, que só se deve gostar de quem gosta de nós,
dar atenção para quem nos valoriza e dar amor somente àqueles que nos amam,
como se isto fosse um momento de
iluminação divina.
Um absoluto atestado de egoísmo e egocentrismo. O sentimento
por algo ou alguém é espontâneo que preenche o ser humano. Não é possível se
alimentar do sentimento alheio, portanto é uma equação impossível, mesmo
pensando em termos logísticos. Além do que, creio que a verdadeira grandeza de
espírito está em dar atenção e amor a quem precisa e não a quem nos retribui.
Sem esperar nada em troca.
Infindáveis reuniões de marketing, a fim de checar novas e
modernas estratégias para conquistar o cliente...São estratégias matemáticas
ultra complexas que exigem o máximo de resultado, com o mínimo de investimento.
Uma vez alcançada a fórmula, tudo deve caminhar para a perfeição, se possível
antes de ontem. E por fim, no final das contas,
compramos a batata de cera, a Coca-Cola tóxica e o azeite de quinta
categoria.
Aceitamos que os fins justificam os meios e concordamos em
fechar os olhos para os olhos queimados do coelhinho e que o uso dos beagles é
para nos livrarmos do câncer.
Compramos a pulseira de marfim, porque é chique e porque o
animal já está morto mesmo, “respeitamos” as touradas porque é cultural e
estamos longe demais para não ter além do que pena dos golfinhos e dos
filipinos.
Pensamos durante 24 horas por dia em como ganhar mais
dinheiro a fim de poder consumir a sopa de barbatana do tubarão, comprar marfim
e fazer preenchimento labial?
E então descobri o verdadeiro luxo.
Por quê? Porque dizem que o luxo é qualidade, raridade,
dificuldade na aquisição, exclusividade, prazer, deleite, desfrute, tempo.
Penso, pois, que toda e qualquer discussão sobre luxo tem que
estar estabelecida antes de tudo no amor. Com ele vem o respeito, o bom serviço
ao consumidor, a honestidade do produto, a satisfação do cliente, a saúde, a
alegria, bem estar, o perdão, a aceitação do próximo com suas virtudes e
fraquezas e com a capacidade de nos aceitarmos, além de sermos capazes de
sempre ajudar o nosso próximo e respeitarmos todas as formas de vida... Se isto
vier acompanhado de um belo champagne em Paris, tant mieux...
Do contrário, para mim, todas estas teses são completamente
vazias, gastas e desnecessárias, já que o futuro do homem é a evolução e a
crescente consciência. Os profissionais que enxergarem isto estarão à frente.
É possível sentir um movimento que segue para o declínio da
ostentação, da overdose da matéria, para a busca de uma vida com mais moral,
ética e simples. O profissional de marketing de luxo do futuro é aquele capaz
de vislumbrar que o que, de fato, o consumidor buscará será o básico.
Quanto mais pessoas e mais empresas olharem para o futuro,
mais entenderão que o mundo está no caminho de volta.
Este movimento de tomada de consciência do indivíduo, que o
leva a refletir sobre suas escolhas e estilos de vida, estão baseadas na busca
de uma experiência duradoura que somente a matéria não pode proporcionar.
Uma linda bolsa, da melhor qualidade e marca só tem sentido,
se o conjunto todo tiver um conceito maior. O produto, na verdade, é uma parte
e um complemento de adorno de uma base de qualidade e beleza, que deve ser o próprio
indivíduo que carrega aquela bolsa. O indivíduo tem que ser lindo também, por
dentro e por fora!!
A experiência do luxo começa com o próprio ser humano. Este
movimento de reflexão, de uma consciência maior e na nova busca por uma
existência com mais sentido, todo seu entorno terá que estar baseado nesta nova
filosofia de vida e em todas as suas escolhas.
Uma empresa que vende produtos deverá compreender, que o seu
item mais importante não é o produto e que o seu trabalho não termina na venda.
O ser humano irá
buscar tudo o que possa lhe proporcionar um sentido mais amplo de sua
existência. É claro que ninguém deixará de comprar uma bolsa ou cosmético,
porém, este produto deve ter um
embasamento de acordo com as novas escolhas do consumidor.
A procedência, a sustentabilidade e transparência da marca,
são muito mais importantes do que o seu display na gôndola. A marca tem que
acompanhar o propósito de vida daquele consumidor.
Grandes empresas devem ter uma harmonia interna em primeiro
lugar. Uma fusão de todos os departamentos envolvidos onde os profissionais não
sejam mais especializados em apenas um setor, mas que tenham a compreensão do
todo.
Departamentos que não se comunicam, não passando de
memorandos clichês, não funcionam neste novo ambiente. Hierarquias
ultrapassadas de diretores que não conversam com estagiários e diretores de
marketing inacessíveis ao mercado, não serão mais eficientes. O status quo dos
profissionais terá que ser a humildade. O consumidor não busca mais o produto
em si. O status terá que ter fundamento. Não será mais suficiente ter uma
tradição histórica e qualidade da matéria prima. Há de ter um conceito que se
encaixe a filosofia do individuo.
Vivemos numa sociedade que visa o lucro e esta questão também
terá que ser reposicionada, pois o lucro somente terá verdadeiro valor e
chances de se tornar uma constante em uma empresa, caso ela esteja disposta a
seguir todos os passos não somente da beleza, do display, da publicidade, mas,
sobretudo, estar baseado na ética e na moral.
Este novo consumidor/individuo busca a procedência do produto
em primeiro lugar. Não sua tradição, mas sua conduta com o meio ambiente, com
seus funcionários. O produto está de acordo com a ética e a moral? Está dentro
do que o individuo considera como sustentável? Está livre de crueldade animal?
Está livre da escravização do ser humano? É leal ao consumidor? Respeita o meio
ambiente?
Passado no primeiro teste, vem a experiência sensorial da
aquisição. Entra a prestação do serviço de venda e atendimento onde os profissionais
da linha de frente que mantém o contato direto com o comprador possuem não
apenas um treinamento embasado em técnicas de venda, mas uma forte formação em
seu próprio propósito de vida. A conquista em descobrir o prazer em servir, o
mérito em atender com afetividade. Ainda é muito, muitíssimo raro encontrar um
profissional com este potencial. Até os dias de hoje, os vendedores ainda
possuem um ar de arrogância.
A verdade é que não há mais como um consumidor somente enxergar
um produto bonito e que lhe confira status, depois do advento da internet,
Google, Facebook. O novo consumidor tem acesso a tudo, a qualquer momento. Naturalmente mais sábios e, portanto, mais
exigentes, buscam a satisfação limpa e duradoura.
A internet nos obriga a tomada de consciência. Não há como
fechar os olhos e dizer que não sabia. De fato, não sabíamos. E neste momento,
estamos sendo surrados com tanta informação. Ainda tontos com tanta verdade
ignorada e falsificada em que vivíamos. O consumidor saiu da apatia e da inércia
e começa a engatinhar rumo a um estilo de vida mais ético. Uns vão demorar mais
do que os outros, principalmente a nova classe média, que ainda está começando
a usufruir da matéria, mas o caminho é um só! Por consciência ou por status ou
necessidade de aceitação, todos terão que seguir este novo caminho. Mais cedo
ou mais tarde!
E não existe maior estratégia no mercado de luxo ou em
qualquer outro do que o Amor.
Usufruir de belíssimas experiências e continuar a desfrutar
do que há de melhor no mundo tenderá a crescer cada vez mais, claro, porém, sob
uma nova perspectiva.
Achou deveras piegas? Acha que é Utopia? Outro dia em um
grupo de discussão, um rapaz me disse que eu vivo no mundo de “OZ”!!
Comentei isto com o meu pai ontem, sobre este meu raciocínio
e ele me enviou a foto abaixo por e-mail do Congresso sobre varejo deste ano em NY!