quinta-feira, 30 de julho de 2015

Os Bastidores do Luxo em Paris! "Os ricos são nômades"!


Ricardo Costa foi vendedor da "maison de luxe" mais valiosa do planeta, sonho de consumo de 9 entre 10 mulheres: Louis Vuitton

Como se não bastasse, ele trabalhava em um dos endereços mais caros do mundo, mais prestigioso, referência internacional em se tratando de mercado de luxo: a Avenue Montaigne, epicentro da sofisticação no mundo, onde as marcas mais exclusivas do planeta disputam cada metro quadrado de uma avenida acostumada a receber uma clientela restrita e afortunada.





Ricardo Costa (piauiense) vive em Paris desde 2004 e trabalhou na Louis Vuitton por 3 anos.

Acostumado a receber princesas e brasileiras poderosas, o caderninho de anotações de Ricardo vale ouro. Mais, vale um diamante rosa e suas histórias renderiam, facilmente, um best seller!



          
       -  O que significou para você trabalhar na Louis Vuitton?

 Eu já trabalhava na JM WESTON na Champs-Elysées, por quatro anos, antes de ingressar na Louis Vuitton.

JM WESTON é uma Maison francesa, especializada em sapatos de luxo masculinos, com um savoir-faire ultra artesanal. Minha aspiração sempre foi a Avenue Montaigne e também trabalhar em uma marca com coleções mais diversificadas, mais fashion e glamour. Candidatei-me e após uma maratona de entrevistas e testes, me propuseram um posto no departamento de prêt-a-porter femme.

Paris possui diversos bairros onde o shopping de luxo se instalou: a rue Faubourg Saint Honoré, rue de la Paix/Place Vendôme, Les Grands Magasins, ao redor do Bon Marché na Rive Gauche.

Porém, a área mais famosa é o "Triângulo de Ouro" e a Avenue Montaigne a mais prestigiosa com uma clientela excepcional que exige um serviço excepcional.

Neste endereço estima-se que a qualidade dever ser altíssima. Que seja do atendimento, instalações e facilidades de cada boutique, além, claro, de suas coleções.

Na Louis Vuitton reaprendi como identificar, acolher, satisfazer e fidelizar esta clientela.

              - Como era a sua rotina de trabalho?

O dia começava com briefings matinais de 15 minutos, antes de ir aos salões da loja. O intuito dessas reuniões informais era o de formar as equipes sobre detalhes das novas coleções, educar sobre aspectos culturais relevantes das diferentes nacionalidades e culturas da clientela, além de aprofundar conhecimentos sobre a história da marca.

Devido à minha experiência no mundo da moda, nos sapatos de luxo e clientela brasileira, eu animava briefings compartilhando os meus conhecimentos.

              -  Atendeu ou viu gente famosa?

 Sim, claro, porém um dos fundamentos do segmento luxo é o sigilo e a discrição. Já vesti várias famosas da TV brasileira, mulheres de ministros, altos funcionários e socialites. Já tivemos David BeckhamNaomi Campbell, Lee Radziwill, a mãe do atual Emir do Qatar, Sheika Mozah, e todas as famílias reais do Golfo Pérsico, princesas da Tailândia, o rei da Malásia. A clientela vem do mundo todo e 80% das vendas são feitas em inglês, desde as boas-vindas à despedida na porta da loja.


– Por que a numeração do prêt-a-porter da marca é 36 e 38? 
A numeração vai do 34 ao 44. A repartição da numeração faz parte de um estudo de perfil da clientela com relação aos best sellers de diferentes coleções anteriores.

Assim, sabe-se que o clássico trench coat Mackintoch, das coleções permanentes, é top de venda e convém a todo tipo de morfologia. Neste caso a peça é proposta do 34 ao 44.

Ao contrário de um vestido extravagante do desfile usado por Kate Moss, por exemplo, será proposto em 34, 36 ou 38 somente, já que não cairá bem em outras grades. Existem algumas opções de looks para quem usa entre 42 e 44.

– Quanto um cliente gasta, em média, na Louis Vuitton?
Média não existe. Um chaveiro custa 150€ e uma venda boa, de 4 horas, pode valer o preço de um apartamento em São Paulo.

Geralmente os top clientes são estrangeiros que vem à Paris, duas vezes por ano, e compram tudo o que precisam para estação. Tenho cliente que compra tanto, que não tem tempo de usar uma peça, ou simplesmente esquece que ela existe…

Tem outros que compram duas, três vezes a mesma peça, pois como eles tem várias casas não precisam levar o dressing inteiro nas viagens.

Os ricos são nômades.

Um colega vendeu uma jaqueta à um russo em 20 minutos no valor de 100.000€. Uma outra princesa árabe gastou 120.000€ em 3 bolsas, compra de 40 minutos.

Parece muito dinheiro, mas nas casas de alta-costura e joalherias se gasta muito mais.

– É verdade que as princesas deixam o número do cartão para vocês debitarem as novidades que chegam à loja?
No comment...
– A brasileira gasta muito?
Depende. Comparada com as chinesas, russas, japonesas, outras asiáticas, americanas, africanas e árabes, não.

Existe um punhado que gasta muitíssimo, mas a maioria é comedida e prefere comprar um pouco de tudo na avenida. Porém, a brasileira é fiel e, se bem atendida, volta, dá beijinho e até caixinha.

Todos os vendedores adoram clientes brasileiras por causa da simpatia, do sorriso, do bom astral.
– Como é a relação de vendedor de luxo e sua clientela?
Muito próxima, muito equilibrada e até gostosa. Somos os embaixadores da marca e a representamos. O cliente respeita muito isso.

Temos uma relação de confiança com o cliente. Se durante uma boa venda rola uma afinidade, podemos conservar os dados deste cliente a fim de fidelizá-lo por meio de atenções especiais e convites para eventos exclusivos.
– Qual é o cliente mais difícil de atender?
O francês, o parisiense é muito exigente. Ele exige uma prática do francês (idioma) perfeita do vendedor estrangeiro, pois a « MAISON » é francesa.

Várias colegas asiáticas já foram rejeitadas por franceses. Os indianos são bem chatinhos também, o sotaque do inglês deles é muito difícil. Os russos são diretivos, meio brutos, mas generosos. Os chineses, apressados, querem pegar em tudo. Os japoneses, super atentos, porém indecisos.

Nos adaptamos a todos eles e com o sorriso!
– Como é a vida em Paris? Boa?
Eu adoro ter minhas quatro estações bem marcadas. Adoro beleza, arte, moda, arquitetura histórica, design, artesanato. O defeito de Paris: não temos praia!!!

Tenho poucos amigos,  mas muito bons, ao contrário do Brasil.

Aqui tudo é mais estável econômica e socialmente. Consigo planejar minha vida melhor, fazer projeções, fixar objetivos a médio/longo prazo.

Amigos brasileiros, de longa data, vêm sempre me visitar como João Braga, Walério Araujo e outros e vou ao Brasil quase todos os  anos. Tenho ainda alguns queridíssimos amigos, no Rio e São Paulo, que sinto muita falta, alem da minha família.

Realizei vários sonhos aqui e alcancei uma estabilidade confortável. Ainda não tenho a cidadania francesa mas me sinto francês, me identifico muito com essa cultura e essa forma de viver.
– Tem vontade de voltar a morar no Brasil? Se fosse trabalhar em outra marca de luxo, qual seria?
Voltar ao Brasil, sim, na condição de trabalhar numa marca francesa instalada aí. Neste caso, já sendo contratado desde a França, na qualidade de expatriado francês, com direito a ajuda pro apartamento e as mesmas facilidades que os franceses que chegam ao Brasil, ou seja, como um príncipe!
Recomeçar do zero nesta altura da vida não poderia. Já fui estilista, figurinista, chapeleiro, bordador, já morei em Londres e aqui. Chega da aventura, eu quero é paz e sossego.


Peça bordada por Ricardo Costa

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