quinta-feira, 31 de março de 2016

Paris

Eu tenho um amigo que diz que, em outra vida, ele deve ter nascido e vivido em Paris, já que se sente em casa a cada vez que chega à cidade. Tenho outros amigos que se entregaram a esta sensação e ficaram de vez. Já fui um deles.

No livro “The Secret History of Paris”, Andrew Hussey, editora Amarilys, 2006, o autor cita algo que talvez possa traduzir um pouco esta minha busca eterna:


O explorador busca intoxicação, desorienta-se deliberadamente e prepara-se para se perder na cidade a fim de achar sua própria saída. Enquanto o familiar se torna desconhecido, o novo e o velho dos prédios, ruas, sinais de trânsito, quadras e espaços abertos são revelados.”



Há algo em Paris. Talvez na forma dos candelabros que sombreiam e iluminam pisos em mosaico às entradas dos edifícios seculares, de gradis rendados e carregados de memória; talvez na simetria em tudo, na cor do calcário e no formato das chaminés. Esta composição penetra pelos poros quando a brisa que vem do Sena, carregada de história e espírito, sopra a vida no rosto.

Paris me dá a sensação de “pertencimento”. Sinto-me inserida em um contexto e me encanto com o que sinto.

O idioma é música para os meus ouvidos e a música que vem do acordeon me provoca frio na barriga; Os aromas da culinária das esquinas abrem um apetite que não sente culpa, nem conta calorias. Celebrar a vida com champagne passa a ser diário e necessário.
Paris tem este não sei quê, como se fosse um espírito que invade o corpo e eleva a alma ao estado de graça.

 A boa e a má notícia é que esta sensação é viciante. Preciso de uma dose todos os anos.
Quem compartilha deste sentimento está sempre buscando as melhores palavras e expressões, além dos motivos racionais e emocionais para tal vicio! Danuza Leão observa em seu livro “Fazendo as Malas”, Companhia das Letras, que há uma sensação leve e gostosa de que em Paris as coisas continuam sempre no mesmo lugar, como a Brasserie Lipp, por exemplo.

Por outro lado, se existe esta sensação do conhecido e permanente, parece que Paris entrega seus segredos de forma inesgotável, ou seja, sempre há algo novo a encontrar. Balzac dizia que Paris era como um Oceano, você pode atirar a linha de medição, mas nunca vai penetrar em suas profundezas. Baudelaire compartilhava desta ideia. A exploração e descobertas não acabam nunca.   

Um dos primeiros autores de guias, Piganiol de La Force já dizia, em 1795: “Estaria muito enganado quem visse o vasto numero de livros dedicados à história de Paris (...) e imaginasse que nada mais havia a ser dito”.

Mas por que falar destes lugares, especificamente?  No livro “Paris, Biografia de uma Cidade” de Colin Jones, li que o historiador Pierre Nora classifica estes lugares como “lieu de mémoire” (local de memória), ou seja, local onde se focou a consciência histórica e que ainda recebeu contínuas incrustações da memória coletiva.  Tanto a consciência de quem protagonizou ou testemunhou aquele momento histórico quanto à consciência de quem visita, todos os dias, estes locais e que deixaram armazenados ali pensamentos, sentimentos, impressões e expressões.

Se me permite um conselho é que nem ignore demais as informações sobre cada visita e, ao mesmo tempo, não exagere querendo saber o que significa cada construção de cada esquina... Não dá! O bom senso sempre pede o equilíbrio! 
Proponho que experimente tornar-se um “flâneur” à La Baudalaire, ou seja, aquele que caminha observando e assimilando, analisando e sintetizando, contemplando e deslumbrando, compondo e desfrutando da experiência a altura e respeito ao que a cidade oferece, de forma quase “preguiçosa”.

Já que o cérebro não consegue armazenar tanta informação como você quer e nem o seu físico aguenta tudo o que você imagina que possa fazer, em curto espaço de tempo, se insistir em cumprir os 12 trabalhos de Hércules, terá visto, mas não vivido. É diferente!  

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